ONG recebeu 104 mil denúncias de crime de ódio na internet em 2014

Edição do dia 29/09/2015

Crimes cometidos na internet causam perdas materiais e danos emocionais.
A Polícia Civil e o Ministério Público trabalham para identificar os criminosos.

Sem título

Vídeo disponível em: http://g1.globo.com/profissao-reporter/noticia/2015/09/ong-recebeu-104-mil-denuncias-de-crime-de-odio-na-internet-em-2014.html

Há diferentes tipos de crimes cometidos pela internet e o resultado disso é prejuízo financeiro, violação da intimidade, ódio e intolerância.

Santa Rita – PB

Uma empresa que vende produtos pela internet é uma das maiores vítimas das quadrilhas de crimes virtuais do brasil. A empresa criou um departamento para tentar identificar e impedir as fraudes. “Às vezes eles estão munidos de CPF, mas não sabe exatamente qual foi a operadora utilizada na compra, número de parcelas, os quatro primeiros dígitos desse cartão. Começam a entrar em contradição”, explica a analista Mônica Silva.

Usando perfis falsos e laranjas para receber as mercadorias, as fraudes não param de acontecer. Em alguns casos, a empresa faz armadilhas para que a polícia chegue até os suspeitos.

Em uma dessas operações, a polícia apreendeu três adolescentes. No pacote, que receberam, há um celular, comprado pela internet com um cartão de crédito falso. A mãe dos três adolescentes apreendidos diz que o endereço da família foi usado pela quadrilha, mas que não sabia de nada. Na avaliação da polícia, a mãe realmente não tinha envolvimento com a fraude.

Goiânia – GO

Depois de dois anos de investigação, uma operação da Polícia Civil de Goiás vai tentar prender uma quadrilha especializada em crimes na internet. São mais de 90 policiais nessa operação para prender mais 20 pessoas.

“Eles realizam transferências fraudulentas de contas, pagamento de boleto, compras pela internet e mexem também com a questão do cartão clonado. O líder da quadrilha é o João Pereira Nunes Junior e ele atualmente reside no estado do Pará, e por isso a gente tem uma equipe que vai cumprir o mandado de prisão nessa madrugada em São Félix do Xingú. Nossa equipe vai acompanhar a prisão do Weber Alves de Oliveira. Ele já é um velho conhecido da polícia, ele já tem várias passagens na Polícia Federal pelo mesmo crime que ele está sendo investigado”, revela a delegada Mayana Rezende.

O golpista, conhecido como “Ebinho”, foi preso em seu apartamento. Antes de ter a casa invadida pela polícia, jogou água no notebook que usava para praticar os golpes.

Essa não é a primeira vez que Weber é alvo de uma operação policial. Se as fraudes forem comprovadas, ele pode ser condenado por furto qualificado, que prevê punição de dois a oito anos de prisão.

Outra equipe que participa da operação já está na casa de mais um suspeito. Wagner procura pessoas e se oferece para pagar contas de luz, de aluguel e de produtos comprados pela internet. Ele faz os pagamentos com cartões clonados.

Em dois dias de operação, a Policial Civil de Goiás prendeu 18 pessoas suspeitas de pertencer a uma quadrilha que pratica fraudes pela internet. No dia seguinte, os dois últimos suspeitos de integrar a quadrilha se apresentaram à polícia. Todos negam envolvimento no crime.

Todos suspeitos já estão soltos. Segundo a polícia, eles devem ser indiciados por furto qualificado. Os suspeitos de liderar o grupo, entre eles Wheber e Vágner, responderão também por associação criminosa, com pena de um a três anos de prisão.

Sem título

Vídeo disponível em: http://g1.globo.com/profissao-reporter/noticia/2015/09/ong-recebeu-104-mil-denuncias-de-crime-de-odio-na-internet-em-2014.html

 

Salvador – BA

Com a internet, o terreiro de candomblé se conectou com seus filhos de santo, mas também se expôs a comentários de pessoas que não respeitam outras religiões.

“Nós tivemos uma publicação por parte de uma jornalista, que convidava a comunidade, convidava as pessoas para uma festa. O indivíduo entrou e postou que ela deveria convidar as pessoas para irem à igreja visitar, conhecer Jesus, e não a casa do Diabo. Quem me chamou a atenção foi uma filha de santo da casa, onde ela entrou e falou: ‘não, nós não somo do diabo, nós não somos uma casa do diabo, nós não cultuamos o demônio, me respeite’”, conta Tata Ricardo, pai de santo.

Tata Ricardo resolveu levar o caso para a polícia. “A pessoa já foi indiciada e está à disposição da justiça, que vai seguir o inquérito, o Ministério Público vai denunciar e vai passar a ser um processo, até lá ele ser condenado ou não”, explica Thais Siqueira, delegada.

O acusado pode ser condenado por crime de ódio, que é cometido quando a vítima é ofendida por causa de sua etnia, raça, religião, grupo social, gênero, orientação sexual ou origem. A pena pode chegar a três anos de prisão e multa.
“Normalmente as pessoas que praticam no caso de intolerância religiosa, eles acham que estão corretos, eles acham que a religião deles é a correta”, diz a delegada.

Desde 2011 o Ministério Público da Bahia tem um núcleo de combate ao crime cibernético, coordenado pelo promotor Fabrício Patury. “Fizemos os pedidos de quebras judiciais, a própria rede social nos encaminha dizendo ‘olha aquela investigação que você está pedindo foi construído por esse e-mail aqui pré-cadastrado, localizamos esse IP e identificamos quem foi o provedor de conexão’. Chegamos ao endereço da pessoa e telefone”.

Por decisão da Justiça, o comentário ofensivo foi retirado da internet.

Encantado – RS

PREP_crimes virtuais (Foto: TV Globo)Meninas e mulheres da cidade de Encantado vivem o drama de ter imagens divulgadas em uma rede social de celular. O caso gerou polêmica na cidade.

Um grupo de meninas resolveu lutar para apoiar as vítimas do vazamento. Elas denunciam a existência de uma comunidade organizada que compartilha imagens íntimas das meninas da cidade.

A polícia de encantado está investigando o grupo, que compartilha imagens de meninas da cidade nuas, inclusive de menores de idade. “Nós fizemos uma operação onde foram cumpridos vários mandados de busca e apreensão com o objetivo de apreensão de celulares de HDs, tablets também para que esse material seja periciado a fim de se verificar de onde é que surgiram, de onde é que partiram essas imagens que foram divulgadas nas mídias sociais”, explica Silvio Huppes, delegado.

Os suspeitos podem responder pelo crime de injúria, com pena de até seis meses de prisão ou multa.

Marcelo Cerqueira é presidente do Grupo Gay da Bahia e membro do comitê gestor da internet. “Nós tivemos aqui em Salvador uma grande polêmica que foi um cantor local que fez uma música que essa música feria sensivelmente os direitos da população LGBT”.

A música teve 110 mil visualizações e gerou comentários homofóbicos, inclusive incitando a violência contra os gays.

Robyssão, cantor da música, é conhecido em Salvador. Ele afirma que compôs a música e não acha que esteja depreciando os homossexuais. “Não, não estou depreciando o homossexual, porque eu acho que isso é muito popular, é tipo, apesar de que é um pouco ofensivo, realmente que reconheço que é um pouco ofensivo, porém, é algo corriqueiro. O público homossexual me ama e eu tenho um amor demasiado por esse público LGBT”.

O Ministério Público disse que a música, apesar de ser de mau gosto, não configura crime e por isso o autor não será notificado. Foi instaurado um processo administrativo para monitorar as produções que o artista publica na internet.

Veranópolis – RS

Em Veranópolis, no interior do Rio Grande do Sul, a publicação de fotos íntimas de uma jovem terminou em tragédia.

O caso aconteceu em novembro de 2013. Giana Fabi tinha 16 anos quando conversava com um rapaz de 17 anos pela internet. Pela câmera, ele pediu para que ela mostrasse os seios. Em seguida, ele tirou uma foto da imagem na tela e compartilhou com os amigos. Dias depois, Giana se matou dentro de casa.

O pai de Giana preferiu não falar, mas a mãe nos recebeu. “É muito dolorido, porque eu ainda estou com o quartinho dela arrumado e tu vê, cada semana eu tenho que ir lá no cemitério, tenho que levar flor, tenho que voltar. Dói e está chegando perto de dois anos quase. Para ela foi grande demais, foi um baque muito grande pra ela e eu acho que ela não conseguiu aguentar, não conseguiu suportar. Ela não conseguiu pensar no que fazer. Ele não tem noção do destruiu, destruiu a família toda”, lamenta Marijane Piccoli.

Felipe, o adolescente que divulgou as imagens da jovem, apagou suas redes sociais e saiu da cidade. Hoje ele trabalha em um supermercado que fica a 70 quilômetros de Veranópolis.

Depois de muitas tentativas, Felipe aceitou dar uma entrevista. “Cara, eu estava numa conversa com ela por Skype e eu bati um print de uma conversa íntima nossa, em que ele me mostrava as partes íntimas, seria os peitos, e era isso. Eu passei esse print para uns amigos meus. Moleque, sabe? Uma bobeira aí foi o maior erro da minha vida. Me coloco no lugar dos pais dela e sei que isso é difícil. É uma tragédia. Isso aí não tem perdão, eu sei que eu errei feio”.

São Paulo – SP

Há 15 anos, o analista Fernando Mercez usa seus conhecimentos para investigar hackers criminosos. “Meu trabalho é entender essas técnicas, tentar prever as futuras, e tentar parar as que estão acontecendo nesse momento. Essa máquina eu uso para análise, e ao mesmo tempo eu recebo alguns ataques aqui”.

Para prevenir os ataques, Fernando tem que agir como um hacker. Fernando invade sistemas para identificar falhas na segurança. “Passamos os nossos relatórios às autoridades competentes, que são responsáveis por essa comunicação, e eles trabalharam e continuam trabalhando em corrigir”.

ONG Safernet

Há dez anos a ONG Safernet criou um site para receber denúncias anônimas de crimes contra os direitos humanos na internet. “O usuário basta entrar no canal, pode escolher qual é o tipo de crime que ele quer denunciar, se é uma página de racismo, uma página de xenofobia, ou uma página de intolerância religiosa, ou homofobia, e ele denuncia simplesmente colocando o endereço da página, é muito simples. Ele copia o endereço da página suspeita e cola no formulário de denúncia, dois cliques, sem nenhum tipo de identificação. Ele pode no futuro vir acompanhar o andamento dessa denúncia, saber se o conteúdo foi removido ou não”, explica Rodrigo Nejm , diretor da ONG.

No ano passado, a ONG recebeu 104 mil denúncias de crime de ódio na internet. As informações foram repassadas para a polícia e para o Ministério Público, e ajudaram a remover da web 2.400 sites com conteúdo ofensivo.

“A internet é um espaço onde você pode ter uma voz pública, isso é muito bom a liberdade de expressão é muito importante de ser garantida. Agora as pessoas precisam saber que tem um limite, até onde vai o que é uma simples opinião, o que é uma discriminação, uma agressão, ou a incitação a algum tipo de crime”, diz.

Fonte: http://g1.globo.com/profissao-reporter/noticia/2015/09/ong-recebeu-104-mil-denuncias-de-crime-de-odio-na-internet-em-2014.html

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *


The reCAPTCHA verification period has expired. Please reload the page.